Acabei de ler o segundo volume da tradução feita pela E-primatur da coletânea de contos que constituem a obra "As mil uma noites" e com a informação de se basear nos manuscritos mais antigos desta. Este conjunto é composto de 3 volume e já falara aqui do primeiro quando o lera.
O presente volume é a continuidade do anterior a partir da narrativa de Xerazade na 102.ª noite como mulher de Xariar e vai até à 282.ª. Cada conto, por norma atravessa noites sucessivas, sendo interrompidos muitas vezes em momento de suspense com a confissão à irmã Dinarzade de que haverá muitas mais a contar se o príncipe lhe poupar a vida, uma estratégia de lhe alimentar a curiosidade e a poupar a sua morte como costumava fazer às suas mulheres após a noite de núpcias. Frequentemente, a mudança de de uma para outra história diferente faz-se também a meio da narrativa noturna para assim manter a suspenso com a nova e o interesse de Xariar.
Ao contrário do primeiro volume, neste poucos contos são curtos e raramente têm uma lição de moral no seu cerne, sendo comum a beleza dos jovens, o luxo das elites, a atração sexual como normalidade, os atributos físicos das mulheres dependentes de ricos que evitam o acesso ao exterior e o erotismo da narrativa que entra em choque com a ideia atual de um islamismo muito conservador e casto. Aqui o enlace no casal apaixonado, nem sempre com o laço matrimonial, é visto frequentemente como um prémio e sem a censura de moral religiosa, mas sempre sujeito à bondade do deus altíssimo e as referências ao Corão são muitas. Nem todos os contos são fantásticos, mas os mais extensos são dominados pela fantasia e personagens mágicas.
O texto que intercala narrativa em prosa com passagens complementares em verso, procura verbalizar a linguagem oral ao estilo antigo. Existem muitas notas sobre a escolha de determinados termos na tradução, explicações de vocabulário, de costumes da época e referências a correções e adoção de excertos de edições antigas de diferentes regiões geográficas do médio oriente de modo a tornar coerente o discurso e consistente o conto.
Fácil de ler, embora, por vezes, me cansei do excesso de pormenores de luxo, gastronomia rica, beleza e fantasia, mas isto resulta do estilo da obra original que procura entrar num mundo que vai muito além da realidade e procura ir ao encontro da imaginação de estratos sociais ricos, belos e cheios de luxo que estariam na base da felicidade e justiça na idade média no médio oriente no seio da cultura islâmica de então.
Pelos dados transmitidos até ao final deste volume, o terceiro completa histórias já narradas que têm outros desenvolvimentos e variantes noutras edições das Mil e Uma Noites e textos com informações gastronómicas e de costumes muito referidos nestes 2 volumes mas pouco desenvolvidos. Um tomo para completar a visão do conjunto que foi esta obra e das variantes que havia no passado, sendo que não há contos para além da 282.ª noite, muito longe do total de 1001 que se poderia depreender do título.
Gostei, vale a pena ler para compreender como no início do segundo milénio os árabes eram bem diferentes daquilo que são hoje em termos de mentalidade.
deve ser uma imersão e tanto. um dia vou tentar. beijos, pedrita
ResponderEliminarÉ um estilo literário diferente do que estou habituado
ResponderEliminarsó lendo pra eu ter ideia. falei de livro no meu blog.
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