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sábado, 18 de dezembro de 2021

"AUGUSTUS" de John Williams

 


Excerto

"Os princípios fortes emparelhados com uma disposição azeda podem ser uma virtude cruel e desumana."

Acabei de ler a obra ficcionada e vencedora do Book Award de 1973 do americano John Williams "Augustus".

Um romance histórico que faz uma biografia do imperador romano César Augusto, cujo nome era Caio Otávio. A grande particularidade desta ficção é o seu género epistolar, toda a vida do protagonista resulta  da montagem das cartas de intervenientes que falam do imperador ou da sua vida pessoal sob a influência deste e inclusive missivas do próprio Augusto a falar das suas decisões, sentimentos e impressões das pessoas com quem estava envolvido.

Sendo Augusto uma personagem histórica os principais aspetos e figuras secundárias estão condicionados aos factos do passado, contudo o autor assume a sua criatividade em muitos assuntos e algumas acomodações para servir à sua obra. Assim compreenderemos a relação de Marco António e Cleóptera e os objetivos desta como rainha de Egito e amante de senhores de Roma, perceberemos como Augusto conquistou o poder e dominou durante meio século o império e o combate com os seus maiores adversários e assassinos de Júlio César. Tomamos conhecimento do modo de vida romano com os seus vícios, virtudes e abusos bem como a gestão política e militar do império. Sentiremos o choque com a forma como as mulheres da nobreza eram instrumentos políticos dos líderes e como estas poderiam sofrer com isso ou levar uma vida lasciva para compensar a sua necessidade de subserviência à sombra dessas funções. Foi um prazer contactar com os grandes mestre da cultura clássica a descreverem a sua época e a falar da sua obra: Horácio, Virgílio, Mecenas, Ovídio, Estrabão e Nicolau de Damasco, todos eles contemporâneos e próximos de Caio Otávio.

Estilisticamente o autor independentemente da sua grande qualidade de escrita literária, tem o cuidado de elaborar textos com estilos distintos para assim sentirmos as personalidades e as capacidades distintas, as cartas dos pensadores, da filha Júlia de Augusto e de generais ou conspiradores mostram a diversidade e versatilidade de John Williams o que torna este romance não só um retrato de época como uma mostra das capacidades literárias do escritor.

O excerto escolhido, atribuído a Ovídio numa das cartas desta ficção, apenas é contrariado na obra pelo facto de ser necessário qualquer azedume para que a aplicação de princípios, concordando-se ou não com eles, puder ser cruel e desumana como se viu em muitas das decisões de Augusto nesta obra.

Um excelente livro que recomendo a qualquer leitor.

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