Citações
"Heróis de ontem, o lixo de hoje, é a dialética da História..."
"Encontramo-nos cobertos de crimes, todavia temos razão perante o Universo..."
"Talvez seja muito bom, isto de não podermos dominar por completo o nosso cérebro, e que ele nos imponha imagens e ideias que preferíamos rejeitar cobardemente: é assim que a verdade faz o seu trajeto..."
Acabei de ler o romance do russo-belga Victor Serge "O Caso do camarada Tulaev" uma obra de ficção que procura retratar o período de perseguição estalinista.
Kostia vive amargurado com as injustiças e infelicidade que vê num regime que procura libertar o Homem e numa conversa com o vizinho do quarto ao lado este empresta-lhe uma arma que acabara de adquirir. Depois, ao passear na noite moscovita, cruza-se casualmente com Tulaev, um dos maiores do regime, e num impulso faz justiça dispara e consegue fugir. Começa então a perseguição aos homens fortes do aparelho que poderiam estar interessados neste crime, teremos então uma série de interrogatórios a quem pode ter ambições e fazer sombra aos sonhos de outros ou à revolução, une-os o facto de estarem todos inocentes neste caso mas um perigo no sistema.
Ao longo dos vários capítulos vamos percebendo de forma crua o que foi a fidelidade de cada um dos suspeitos à revolução em curso, o respetivo modo de ascensão no aparelho, a exigência de obediência cega imposta pelo partido e como se criou uma justiça destruidora dos seus heróis em nome dessa revolução que eles próprios fizeram de tal modo que praticamente todos estão à espera de serem condenados nesta teia que teceram que já os levou à derrota na guerra civil espanhola.
A escrita é de grande qualidade estética, bela e cheia de reflexões, o que torna esta obra não só uma denúncia política do autor (um anarquista, comunista e trostkista filho de russos mas nascido na Bélgica) um texto literariamente rico, profundo e originalidade na trama, com um humor subtil com ironia e sarcasmo que se subentende a partir dos pensamentos e frases dos personagens que vão desfilando e, entre eles, o que nunca é identificado pelo nome: Estaline.
Apesar do ambiente tenso é uma obra fácil de ler, a riqueza de pensamentos torna-o apto a muitos sublinhados e fonte de citações, o que justifica ter sido considerado uma obra-prima da literatura de exílio de meados do século XX. Muito bom... excelente!
fiquei curiosa. não conhecia. beijos, pedrita
ResponderEliminarE um livro de denúncia política, mas muito bom como obra literária e conciliar o terror da opressão com humor é reflexão é de génio. Agora percebo porque esta obra teve tantos elogios quando foi reeditada em Portugal.
ResponderEliminarGostei da capa desse livro, bem interessante. Quem pensou nela está de parabéns...
ResponderEliminarÉ uma editora criada por pessoas interessadas em obras de culto pouco que têm ficado esquecidas e toda a equipa é de elevado nível cultural e dedicada à divulgação de livros que importa divulgar... para vencer o projeto edita obras por crowdfunding de modo assegurar edições economicamente sustentáveis desde o início, só que o sucesso da iniciativa tem permitido também boas vendas e cobrir edições de obras que não tiveram tanta adesão de interessados.
ResponderEliminarUma das obras editadas com maior projeção nos meios culturais foi esta mesma, as capas têm na generalidade evidências de serem feitas por um núcleo restrito de bons artistas devido a semelhanças de traço.