Acabei de ler a última das obras de ficção do russo Lev Tolstoi, uma novela que só foi publicada postumamente: "Khadji-Murat".
A trama passa-se no Cáucaso e dá-nos uma imagem da guerra de ocupação russa da Chechénia e da resistência do seu povo. Khadji-Murat é um chefe guerrilheiro checheno, convertido profundamente ao islamismo, que mesmo sem confiar no líder do seu povo, que o conduz numa "guerra-santa" contra o invasor cristão russo, lutou intensamente ao seu lado com importantes vitórias. Todavia, a desconfiança e o mal que reconhece em Chamil, leva-o a optar por pessoalmente se entregar ao czar através de militares ocupantes que lhe despertam confiança. Decorre então um período de desconfiança dos russos que o mantém cativo experimentalmente, entretanto Khadji-Murat é alvo de chantagem do seu imã que tem como refém a família do protagonista. Neste período vamos descobrir um homem íntegro que se vê entre o mau e ambicioso líder checheno e uma sociedade de militares e nobreza sem valores morais, viciada e interesseira, uma tensão entre dois mundos perversos em confronto que conduzirá ao choque final.
Uma obra curta, sem o vigor dos seus maiores romances, mas onde a filosofia que marcou Tolstoi está presente: a integridade do homem bom no seio do mal, as divisões culturais entre a Rússia e a Europa ocidental, o conflito do império com os vizinhos do sul, os valores das religiões e o desprezo por quem as usa como estandarte para conquistar ou manter o poder.
Tolstoi, apesar de assumidamente cristão e russo, neste livro deixa claro os podres que gangrenam o seu povo e os crentes, sendo a integridade humana uma raridade que dificilmente resiste estas ameaças.
Gostei muito desse livro. O curioso é que, apesar de ser uma obra curta, a original tinha 3.500 páginas. Tolstói a foi condensando até chegar a essa forma.
ResponderEliminarÉ bom, mas é das obras de Tolstoi a que menos me marcou.
ResponderEliminaresse não li. beijos, pedrita
ResponderEliminarEu tenho vários dele que também não li e um pelo menos estou bem interessado: "A sonata a Kreutzer"
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