Apesar da crise por que estamos a passar, os livros não me deixaram de fazer companhia e posso comemorar o Dia Mundial do Livro como sempre, pois ler não interfere com o isolamento social e até rompe com a solidão de modo saudável.
Por norma, neste dia listo as obras que mais prazer me deram desde o anterior Dia Mundial do Livro segundo várias categorias, este ano, como habitual, hesitei, mas lá consegui uma seleção final que abaixo exponho:
Melhor Livro de Ficção em Língua Original Portuguesa
"A Ronda da Noite" de Agustina Bessa-Luís
No ano do desaparecimento desta escritora com uma produção tão vasta, o seu último romance publicado não foge às suas características mais comuns: a exposição dos vícios e do estilo de vida das gentes aristocrática e burguesa do norte de Portugal, tendo como centro a vida em torno de personagens femininas fortes. Não é a minha obra predilecta de Agustina, mas é das de mais fácil leitura e pode servir de entrada ao conhecimento do seu estilo e tem como fio condutor o quadro mais famoso de Rembrandt. O postal sobre o livro disponível aqui:
Melhor Livro de Ficção Canadiana
"The Testaments" de Margaret Atwood
A continuação da vida distópica das mulheres na república ditatorial de índole religiosa, conservadora e misógina em Gilead, resultante de uma futura transformação e fragmentação dos Estados Unidos, é uma homenagem à força feminina em prol da implosão do regime de uma das minhas escritoras favoritas de todo o mundo e natural do meu país natal. Mais pormenores sobre a obra aqui. O romance já está traduzido e disponível em português.
Melhor Livro de Ficção Estrangeiro
"A Mancha Humana" de Philip Roth
Uma obra que mostra como o preconceito racista está infiltrado na sociedade norteamericana e narra como através de um estratégia de moral dúbia o protagonista a ultrapassou e venceu. Um romance que me reconciliou com o escritor que estava proscrito por mim. O texto sobre o livro está aqui.
Melhor Livro de Não Ficção
"A Lebre de Olhos de Âmbar" de Edmund de Wall
Curiosamente uma obra que se assemelha a um romance, a história da família dos banqueiros judeus Ephrussi, tendo como linha narrativa a constituição da coleção de pequenas peças de arte japonesa "netsuke" por um parente no século XIX até chegar como herança ao autor já no século XXI. Uma maravilha em termos de informação histórica, descrições do mundo cultural de Paris que serviu de base a Proust e de Viena antes da queda do império, além de uma magnífica qualidade de escrita descritiva. O postal sobre o livro neste blogue aqui. O livro que mais gostei em 12 meses.
Como todos os anos, a dúvida da seleção manteve-se até à execução deste postal, mas havia que tomar decisões e se esta tivesse ocorrido noutro dia talvez a lista pudesse ter alguma alteração.
feliz dia do livro. sim, livros são companheiros e abrem janelas. beijos, pedrita
ResponderEliminarEmbora eu preferisse viajar casa fora, os livros estão comigo neste dia. Feliz dia do livro para si também
ResponderEliminarObrigado Carlos pela sua lista que anotei devidamente. A minha mulher viu as duas primeiras temporadas da série The Handmaid's Tale e gostou bastante e eu tenho A Mancha Humana em fila de espera depois de ter lido há cerca de um mês O Animal Moribundo e não ter correspondido ao que esperava nem à fama que o autor granjeou.
ResponderEliminarE já agora perguntava-lhe qual a sua obra preferida de Agustina. Disseram-me que Os Meninos de Ouro era sobre o Sá Carneiro e um dos seus melhores livros, tirando A Sibila que é considerada por todos como a sua magnum opus.
Um abraço.
Boa Noite Joaquim
ResponderEliminarO anterior livro de Philip Roth nem terminei, foi O complexo de Portnoy. Fartei-me do complexo de judeu e da questão dos apetites sexuais do protagonista enquanto esperava o resultado da biopsia da mãe, pelo que este me impressionou muito bem depois de baixas perspetivas e o ter comprado para dar uma segunda oportunidade ao autor. Tal como disse, algumas obras estiveram em dúvida no momento da opção. Gostei, é uma boa estória e reconciliou-me com o escritor.
Curiosamente o meu favorito de Agustina não é nenhum dos seus mais famosos, é "A quinta essência" bem mais difícil que A ronda da noite, mas aquela personagem de mulher sapiente que mostra o feminino na China/Macau e o contraste com o ocidente impressionou-me muito. Tenho em casa Fanny Owen, para ler A Sibila é um grande romance, sobretudo marca uma época, uma passo de gigante na literatura portuguesa no meio da ditadura e em meados do século.
Os meninos de outro que dizem ser retratos da família Sá Carneiro ainda não li e gostava muito de ler A Embaixada a Calígula mas andou esgotado, agora que a obra anda a ser reeditada pode ser o momento de de o encontrar.
Anotarei os preferidos do Carlos, por confiar no seu bom gosto. Espero que esteja tudo bem, e que os livros nos continuem a acompanhar e a tirar do isolamento.
ResponderEliminarSe a Bárbara quiser escolher só um: "A lebre de olhos de âmbar" soberbo!
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