Porque cá em casa tive de aumentar intensamente o número de livros policiais, género de que minha mãe com 84 anos é fã, e porque há muito tempo lera o primeiro volume da série Ripley e adorara, li agora o segundo romance desta personagem "A máscara de Ripley" (Ripley Under Ground) da americana Patricia Highsmith.
Esta escritora escreve bem, coloca cuidado estético na narrativa como deve haver em qualquer livro de boa literatura, mas os seus romances são de mero entretenimento sem preocupações morais e de mensagens ideológicas ou filosóficas. Uma das características das obras desta autora é de por norma saber-se do início o autor dos crimes e assistimos mais à forma como estes conseguem ludibriar a polícia do que o trabalho destes.
Assim, é normal que Highsmith tenha criado uma personagem como Ripley de gostos elitistas, apreciadora da boa vida, simpática e inteligente, mas amoral e criminosa para assegurar o seu modo de viver que se vê em imbróglios para se escapar à ação da justiça na sequência dos seus atos.
Se no primeiro e magnífico romance que li há muitos anos e nunca esqueci o jovem americano Tom Ripley que saiu da sua vida miserável para se tornar herdeiro do jovem rico de que ele assassinou, após ter sido fortuitamente encarregado de o trazer da Itália para a família nos Estados Unidos. Neste segundo romance o nosso herói malvado está bem estabelecido e casado com uma jovem rica pouco escrupulosa nos arredores de Paris, lucrando com um negócio levado a cabo por uns amigos em Londres que comercializam novos quadros de um pintor desaparecido da sociedade mas que o grupo sabe estar morto, até que um norteamericano desconfia que as pinturas são falsas e tenta desmascarar a rede. Tom sente-se ameaçado e terá de agir e claro por vezes de forma extrema para salvar a sua imagem sem deixar provas suficientes que o incriminem.
Algumas passagens são muito intensas, contudo o suspense e as dificuldades nunca comprometem a forma de viver deste Ripley: o seu bom gosto, estilo de vida burguesa e bom anfitrião das suas vítimas e detetives e, apesar das suspeitas que o cercam, lá vai ultrapassando com escapatórias impressionantes. A obra decorre na década de 1960 e sente-se o facto de os telefonemas frequentes ao longo do livro estarem dependentes de telefonistas sem a rapidez de hoje, o que soa estranho.
Continuo a admirar as histórias deste vilão cheio de classe e em breve pretendo voltar a acompanhá-lo, até porque já possuo todas as suas aventuras.
por aqui eu tenho visto mais publicações de livros de fantasia. de autores de harry potter, senhor dos aneis. no metrô é a leitura mais predominante. gosto muito de livros policiais. quero demais ler esse livro da atwood. beijos, pedrita
ResponderEliminarPenso que por cá também a promoção de fantasia é muito alta e a leitura do tipo de obras que citou. Parece-me que há muita gente a ler literatura mediana mas mais sólida de que essas irrealidades. No campo policial predomina o nórdico do século XXI, mas como muitos têm cenas muitos violentas tenho evitado pois penso não ser adequado a minha mãe e, neste género, eu leio o que compro sobretudo para ela.
ResponderEliminarO melhor dos melhores: As dez figuras negras.
ResponderEliminarO segundo melhor: O Assassinato de Roger Ackroyd.
Ambos de Agatha Christie claro, e sem Poirot.
Boas leituras. Faz bem proteger a mãe dos policiais nórdicos, pois ouvi dizer que contêm cenas explícitas de crime. Tenho vários em espera.
E que policial da Atwood é esse de que fala Pedrita?
Também ouvi dizer bem de Carol da Patrícia Highsmith, creio que parcialmente autobiográfico. Conhece?
ResponderEliminarJoaquim
ResponderEliminarA Pedrita não fala de um policial de Atwood, mas sim do livro que estou a ler em paralelo e em inglês The Testament publicado em 2019 e que está na coluna esquerda do blogue.
Nunca li Carol, este foi o terceiro Highsmith que li: O álibi perfeito, O talentoso Mr Ripley, e este agora.
As dez figuras negras não comprei por a wook dizer que vai desenvolvendo uma história de terror, não sei se suave ou não, mas tendo em conta a idade de minha mãe não lhe quis despertar pesadelos ;-)
Li O Talentoso Mister Ripley depois de ver o clássico "Plein Soleil" (René Clément, com Alain Delon) e antes do "The Talented Mr. Ripley, (Anthony Minghella, com Matt Damon). Gostei de ambos os filmes.
ResponderEliminarNão li mais nenhum livro da série Ripley, embora tenha visto alguns filmes.
Da Patricia Highsmith li ainda alguns contos, por sugestão do Pedro Correia: estou-me a lembrar de um absolutamente horripilante sobre caracóis.
🌹
Maria
ResponderEliminarSe gostou do talentoso, penso que gostará dos restantes, a maior diferença é que já não somos surpreendidos pela amoralidade que descobrimos nos primeiro volume, mas o estilo e maquiavelismo simpático estende-se para este e suspeito que para os seguintes.