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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

GONE, BABY, GONE de Dennis Lehane

Excerto
"Perguntei-me porque teria sido permitido a uma criança de oito anos viver nesta terra apenas o tempo suficiente para sofrer tudo o que de horrível nela existe."

Apesar de o título "Gone,Baby, Gone" não estar traduzido, é uma obra transposta para Português do norteamericano Dennis Lehane, que corresponde a uma letra de uma canção mencionada no romance. O livro de ficção que talvez mais me fez sofrer e partir-me o coração desde há muito tempo. Contudo Lehane é de facto um escritor que mexe com o leitor rebuscando o mais negro que existe na sociedade, tendo por norma o cenário da grande Boston como acontece neste e noutros livro como Mistic River já falado neste blogue.
Na sequência do desaparecimento de uma criança de 4 anos, na região de Boston e filha de uma mãe nada exemplar, um casal de detetives privados são contratados para entrar na busca, depois de integrados na equipa da polícia local de crimes contra crianças, com o tempo verifica-se que o caso pode estar associado a redes muito mais marginais de tráfico de drogas, cartéis, conluio entre polícias e traficantes e vinganças entre grupos, até que um segundo desaparecimento cruza o caso com redes bem mais negras de prostituição e pedofilia onde a partir de um momento já nem se sabe quem foge à lei, quem se serve desta para fazer o mal e quem coopera entre gangues, polícias e quem está inocente neste confronto.
Não é um livro frequentemente violento, mas tem algumas cenas com foras da lei muito intensas e numa delas deduz-se de uma forma especialmente dura as atrocidades que a escória humana pode infligir a uma criança. Dói, repugna mesmo que colocado em obra para nos fazer refletir sobre estes problemas que a sociedade enferma e os defeitos da lei cujo cumprimento remete o futuro de crianças para meios sem amor e as arranca de onde poderiam ser felizes, tudo isto sob a espreita da escória que a humanidade consegue criar.
A narrativa não se limita aos clichés do romance de polícias e bandidos, entra na reflexão dos problemas e tem preocupações literárias estilísticas, embora esta seja realista sem floreados estranhos a um meio duro da sociedade. Na obra há gente boa, gente que aparente ser boa, gente má e escória que não deveria ter tido possibilidade de nascer pelo mal que semeia, mas o que mexe com o leitor e o sacode é ver gente que procura vias erradas para corrigir o mal, sujando-se enquanto a reposição da lei é capaz de sujar o que de melhor temos: crianças inocentes. Uma obra de ação que o leitor tem de estar alerta pelo que pode nela encontrar.

2 comentários:

  1. deve ser um livro contundente. terei q ter coragem pra enfrentar. beijos, pedrita

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  2. No género de livros policiais Lehane parece nunca se ficar pela facilidade da ação das séries e livros banais, questiona sempre os problemas sociais, as disfunções do sistema e os dramas psicológicos das vítimas deste regime, um bom livro para conhecer este autor e bem menos agressivo para o leitor será este que já li Mystic River, https://geocrusoe.blogspot.com/2016/12/mystic-river-de-dennis-lehane.html
    Apesar tocar no mais negro de Gone, Baby, Gone... e de ter tensão o conjunto é bem mais soft.
    Há outra obra dele que desejo muito ler Shutter Island onde as vítimas me parecer ser os doentes psiquiátricos.

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