O romance: "Os Milagres do Anticristo", da escritora sueca Selma Lagerlöf, a primeira mulher vencedora de um prémio Nobel da literatura, é uma obra que usa o fantástico tomando lendas e crenças para criar uma sátira e levar a uma reflexão sobre a confusão entre comportamentos sociais, ideologias políticas e fé religiosa.
A partir de uma crença generalizada na Sicília de que o anticristo terá a mesma aparência que Cristo e dum acontecimento que Selma conheceu numas férias naquela ilha, da substituição (à socapa) de uma imagem de altar por outra falsa; a escritora cria uma parábola de reflexão com humor e ironia sobre a confusão da ideia política de socialismo e da mensagem do cristianismo, ambientada à terra siciliana e com recurso aos mitos, religiosidade, disfunções sociais, vícios culturais, sede de justiça e paixões que formam a imagem coletiva do estilo de vida siciliano.
Na colina romana do Capitólio uma sibila profetizou a César Augusto que ali se adoraria Cristo ou o anticristo, mas não o homem fraco. Após a conversão de Roma ali construiu-se a igreja Aracoeli (eu conheço-a e para mim o seu interior é um dos mais belos e ricos da cidade), onde uma imagem de Cristo menino é venerada durante séculos para evitar a adoração do mal, mas no de 1800 uma inglesa ambiciona a sua posse e procede à sua troca, com o embuste descoberto fica com a falsa e viaja por muitos locais onde se operam maravilhas, até ir parar a um altar numa pequena e pobre cidade da Sicília e nesta comunidade esquecida muito muda com o patrocínio de uma devota apaixonada por um revolucionário e o sucesso do povoado é um exemplo para a região do Etna, até que se descobre a verdade das origens da imagem "milagreira" que só agia a favor do interesse mundano.
A escrita é muito fácil e cativante. A forma de explorar mitos e hiperbolizar acontecimentos fantásticos faz parte do estilo desta escritora nórdica, que neste romance deixa os de origem pagã da Escandinávia e pega nos associados às crenças Católicas e denúncia subtil dos defeitos estruturais da sociedade latina, com aproveitamentos religiosos e políticos nas questões de ideologia e fé, No fim a obra dá um grande abanão a quem vai pensando que se emite alguma opinião de fundo sobre religião, mas não deixa de ser mordaz a quem quer aproveitar o cristianismo para fins ideológicos. Como todo o romance que mexe com religião, valores e estilos de vida, o livro pode chocar, mas no fundo é uma excelente reflexão a brincar com a crendice popular e o aproveitamento político e social desta. Gostei muito.
Apesar de envolver temáticas religiosas e ideológicas, o livro não é nada sobre religião, sobre o ponto de vista ideológico deduzo que pelo menos a escritora não seria nada socialista.
ResponderEliminarO Eric Ambler, autor inglês de livros de espionagem internacional e policialesco me deu a impressão que foi ele mesmo um agente da Scotland Yard ou mesmo da Interpol. No livro O JULGAMENTO DE DELTCHEV, escrito em 1951 ele profetizou a historia do nosso ex-presidente INACIO LULA DA SILVA!
ResponderEliminarSeria legal se pudesse disponibilizar para download
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