Terminei a leitura de "A queda de um anjo" de Camilo Castelo Branco, a primeira obra que me lembro de ler deste profícuo escritor português da época de Eça, e apesar de ainda integrada no seu período romântico é essencialmente uma sátira com uma crítica mordaz cheia de humor a um Portugal conservador e oportunista e à classe política.
Calisto Elói, um transmontano de Miranda, casado com uma prima para gerir um património elevado, é um quarentão erudito, de educação conservadora e dedicado aos clássicos da antiguidade de onde extrai uma moral rígida. É então proposto para candidato a deputado em Lisboa em defesa da terra, pois o incumbente no cargo nada faz pela região. Calisto é eleito e aí vem o provinciano para a capital. Apesar do choque com realidades urbanas, a sua retórica permite um sucesso nos debates contra mentes progressistas defensoras da cultura e torna-se numa referência na defesa da moral e do recato, até ao dia em que se apaixona e entra em confronto com tudo o que defendeu, enfrenta a luta de sua mulher para o reconquistar e serve de gáudio aos seus adversários.
Ao princípio o vocabulário rebuscado da obra criou-me dificuldades em entrar, mas o humor e ironia atravessa toda a obra e torna-se tão doce como um papo de anjo. Há aspetos que mudaram muito em Portugal desde o século XIX, mas a mudança de comportamento em Camilo vê-se ainda hoje e infelizmente é muitas vezes para pior e para ações bem menos honestas e divertidas. Gostei e diverti-me muito.
eu li desse autor amor e perdição que inclusive inspirou livremente uma novela que gostei muito. fiquei curiosa de ler esse pelas ironias. beijos, pedrita
ResponderEliminarfalei de livro no meu blog.
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