"O homem domesticado" do português Nuno Gomes Garcia mostra uma distopia que veio instalar na Europa, mais intensamente em França, após uma catástrofe "O Grande Flagelo" que matou a maioria dos homens e em menor escala as mulheres, só que as deixou na generalidade inférteis, e com chegada à Presidência de Marine (suspeito que este e outros nomes não são casuais na obra) onde se construiu uma sociedade com reprodução humana artificial, não uterina e com a geração de machos homogeneizados, submissos ao domínio absoluto da mulher. Após se compreender o modelo social, um acontecimento violento transforma transforma a narrativa quase num policial, onde deduções certas e erradas da estória e justificação política terão a explicação até ao final.
Ao contrário de outras distopias recentes, onde pelo exagero se denunciam tendência e riscos em que a sociedade pode cair, casos de "Submissão" de Houellebecq ou de "Oryx e Crake" de Atwood; Gomes Garcia cria uma realidade distinta da atual, embora sem ignorar ideias atuais, como considerar estereótipos de género não naturais certas características de feminilidade ou masculinidade, preconceitos de que a violência social com origem só no homem, optando assim por um estilo muito mais próximo de Huxley em O Admirável Mundo Novo ou "A Ilha".
Contudo, ao contrário de muitas distopias que li, onde é evidente a mensagem subjacente, a ideia a passar em "O Homem Domesticado" é algo dúbia. Tanto pode chocar para levar à reflexão sobre certos preconceitos machistas através destes machos completamente submissos onde o papel na sociedade se limita ao estereótipo ultrapassado da mulher como mera serva do homem e até publicamente oculta através com a burka, aqui na versão cache-tout para os machos; como pode ser o de satirizar a ideia supremacista da superioridade da raça branca, loura e de olhos azuis aqui bem degenerada; ou de evidenciar que os atuais defeitos da sociedade não resultam da predominância do homem nos lugares de poder, pois a mulher é bem capaz de criar um sistema opressivo, violento e ditatorial onde a justiça é subjugada ao objetivo político ou até denunciar tiques másculos de extrema-direita em Marine Le Pen. Quem sabe se não será tudo isto em simultâneo?
A escrita é clara, com poucos floreados poéticos como em muitas distopias, sem excluir algum recurso a metáforas e comparações estilísticas para a embelezar literariamente. Um livro fácil de se ler, para alguns terá momentos chocantes, mas não me marcou com a intensidade dos romances do mesmo género e acima citados.
Olá Carlos,
ResponderEliminarNossa que livro interesse! Espero que chegue no Brasil.
Qual é o ano de sua publicação?
gostei muito da temática. fiquei curiosa. mesmo vc não se identificando tanto. beijos, pedrita
ResponderEliminarKelly - é mesmo recente, já deste ano de 2017. Não sei se chegará ao Brasil, mas é provável.
ResponderEliminarPedrita - penso de facto que a obra poderia ter ido mais além em termos de mensagem.
Não tenho curiosidade, sinceramente.
ResponderEliminarAproveito para lhe deixar um link e crítica de um livro sobre o qual comentou num blog.
http://observador.pt/2017/09/07/a-luz-dos-escravos-de-colson-whitehead/
Olá! :)
ResponderEliminarA seguir o teu blogue! Não conhecia ainda, gostei muito, parabéns!
Beijinhos
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