O romance "A ponte sobre o Drina", do bósnio croata e prémio Nobel da literatura em 1961: Ivo Andric, tem como protagonista esta obra de arquitetura, ou seja, a história da sua origem, construção e posterior importância desta infraestrutura, que é Património Mundial da Humanidade, na vida da cidade de Visegrad, a qual serviu de ligação entre o mundo islâmico/turco e o mundo cristão/sérvio e entre a cultura ocidental e oriental da Europa através dos Balcãs desde meados do século XVI, até à sua primeira destruição parcial na I Grande Guerra Mundial do século XX.
À semelhança do anterior livro que li deste autor "A crónica de Travnik", o mesmo caracteriza-se por uma escrita muito elegante, rica de adjetivos e metáforas em série e por vezes prolixa de pormenores, o que dá lugar a uma narrativa que se desenrola a um ritmo lento, como a vida na província. No presente romance não há um protagonista, o narrador faz desfilar uma série de personagens desde o não ficcionado sérvio raptado pelos turcos, que ocupavam a zona no século XV, para torná-lo militar forçado ao serviço do islamismo, ou seja um janízaro, que se tornou Mehmed Paxá, com um cargo equivalente a Primeiro-ministro governando todo o vasto Império Otomano, o qual decidiu mandar contruir esta ponte na sua província natal, prosseguido com personagens reais e lendárias, bem como a origem das lendas associadas à sua construção e ao imóvel, para depois ao longo de três séculos relatar estórias relacionadas com cidadãos sérvios, bósnios e judeus desta cidade, desde as suas paixões, investimentos, desgraças, amizades e tensões entre os vários credos e com as mudanças de mão dos povos que ocuparam e lutaram pelo domínio ou independência desta zona multiétnica da antiga Jugoslávia: turcos, austríacos, sérvios e bósnios; tudo isto sempre à sombra desta imponente ponte que marcava o pulsar cultural e social de Visegrad, unia mundos tão diversos e assistiu a mudanças muito significativas no modo de viver das populações e assistiu ao nascer de novas tecnologias industriais.
Assim, numa obra única e como numa passarela desfilam aventuras de juventude, reflexões de velhice, discussões de ideias, gente ébria e sóbria, exércitos, amores, paixões, ciúmes, desconfianças, rivalidades e ódios que em momentos de paz são mutuamente toleráveis, por vezes ridículos ou causadores de incidentes divertidos, mas que em períodos de guerra atingem extremos de desumanidade que deixam marcas para sempre.
Um grande livro, que dá a conhecer a complexidade do que é a mistura multicultural da Bósnia-Herzegovina tendo como ponto de união esta ponte secular Património da Humanidade, isto num romance que é também uma obra de arte global.
Visegrad e a sua ponte (wikipedia)
estava muito curiosa com a sua resenha desse livro. tinha achado a capa fanstática e como nunca tinha ouvido falar tinha muita curiosidade. nossa, fiquei mais curiosa ainda. anotado. beijos, pedrita
ResponderEliminarPois a capa da anterior edição para mim ainda era melhor, já é a segunda obra que leio dele e espero ainda ler uma terceira que está reeditada em Portugal passada em Istambul.
ResponderEliminarGostei tanto deste livro! :)
ResponderEliminarEu tenho a edição anterior e, pessoalmente, também gosto mais.
Beijinho, Carlos
Compreendi que a pintura é de Mehmed-Paxá, que tomou a iniciativa, mas a obra é muitíssimo mais sobre a ponte do que do seu promotor.
ResponderEliminarMais um livro para colocar na minha interminável lista "A ler".
ResponderEliminarDenise
Uma obra que nos ensina a compreender porque o desmantelamento da Iugoslávia foi tão sangrento numa Europa que se julgava tão civilizada.
ResponderEliminarJá anotei o nome do autor, pois adoro esse tema.E vou ler.
ResponderEliminarEu tenho certeza que você vai gostar do livro O COLECIONADOR DE MUNDOS!