"Hereges" obra recente (2015) do escritor cubano Leonardo Padura, corresponde na realidade a uma trilogia de romances num único livro que se completam e correspondeu à minha estreia neste autor e na literatura de Cuba.
O primeiro romance decorre em dois tempos: um na época entre a ascensão nazi e a revolução cubana e o outro no período de transição de Fidel para Raul Castro. A trama tem como ponto de partida o facto histórico da recusa de desembarque em Havana dos refugiados judeus da Alemanha no transatlântico São Luís ali aportado em 1939 que tornou os seus passageiros vítimas do holocausto, onde de terra teria assistido a este desenlace um filho, já ali refugiado, de um casal então impedido de entrar em Cuba que supostamente tinha um retrato de Rembrandt de um judeu a representar Cristo, p qual seria objeto de negociação com as autoridades para este alcançar a sua liberdade, só que aquelas aceitaram a obra mas sem cumprir o prometido. No segundo tempo, o neto do casal contrata o trabalho de um detetive (personagem que é comum a muitas obras de Padura), ex-polícia, para não só investigar um possível crime de vingança do seu pais contra os corruptos que deixaram morrer os avós, como sobre o possível percurso do quadro.
O segundo romance recua ao tempo de Rembrandt e passa-se em Amesterdão, onde o quadro foi pintado, e narra a vida do modelo do retrato, um jovem sefardita vocacionado para a pintura, profissão interdita aos judeus que sofre as consequência da sua transgressão num período igualmente contemporâneo de outro genocídio judaico que está na origem da entrada do quadro na família do casal morto às mãos dos nazis. Esta relato está ligado a Portugal e à perseguição judia do tempo da imposição da conversão ao cristianismo de onde era originária a família deste discípulo do pintor.
O terceiro romance volta a Havana já no tempo de Raul Castro e é outra investigação do mesmo detetive sobre um desaparecimento de uma jovem, inteligente e culta, revoltada com o vazio da sociedade contemporânea e a corrupção em Cuba, só que novamente este caso vai-se cruzar com a família judaica proprietária do retrato, fechando assim um ciclo que é a saga desta família judaica e deste ficcionado trabalho de Rembrandt.
Este livro tem muito mais que um romance policial ou um histórico, serve de mote para falar da luta contra a opressão e da liberdade de pensar e de escolha das pessoas, os riscos de quem optar por se livrar destas amarras impostas pela política ou pela religião, desta forma torna-se evidente a analogia entre as perseguições ideológicas, os objetivos destas, a corrupção social na sociedade atual e a desilusão de quem acredita em messias como salvação no mundo, isto escrito numa Cuba que não é um exemplo de liberdade de pensamento e de ação, de cujos vícios dos últimos 80 anos são expostos de uma forma mais ou menos direta, tornando-se assim numa estratégia inteligente de denúncia, não só do sistema que ali se desenvolveu e o antecedeu, como também do mundo contemporâneo ocidental teoricamente livre e garante de um futuro promissor.
já li alguns autores cubanos, mas desse não li nada. a capa impressiona. e o tema me interessa. 3 volumes, caramba! alejo carpentier nasceu em cuba, eu li o maravilhoso século das luzes, mas acho que ele era mais francês que cubano. o cubano que li foi o guillermo cabrera infante e comentei aqui http://mataharie007.blogspot.com.br/2012/11/a-ninfa-inconstante.html beijos, pedrita
ResponderEliminarNão são 3 volumes, é apenas um único livro, dividido em várias partes sendo que a 1.ª, 2.ª e 3.ª são como que 3 romances completos, mas que se cruzam numa obra única e complementam a saga e ainda há um 4.º mas é como que um epílogo do segundo cujo essencial já estava anteriormente mas acrescentou informações históricas de um genocídio que então ocorreu.
ResponderEliminarcarlos, etnão é como dora doralina, um livro só dividido em 3 partes. não sei se outra edição do dora doralinha é tudo junto tb.
ResponderEliminarCarlos Faria, você escreveu muito bem sobre HEREGES, que eu li quase sem parar!Gosto dele também do livro O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS, que me levou a ler a autobiografia do Trotsky por ele mesmo, escrito na Turquia em 1929 quando do seu exilio por lá. Esse autor cubano para mim é o melhor de todos da Ilha.
ResponderEliminarPois espero ler precisamente esse livro que referiu e provavelmente outros a seguir, pareceu-me de facto um escritor muito bom
ResponderEliminarNão conhecia o livro nem o autor, mais um para a "lista".
ResponderEliminarRecomendo verdadeiramente.
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