"O sol dos mortos" do escritor russo refugiado em França na sequência da revolução soviética Ivan Chmeliov, possui uma forma artisticamente trabalhada e bela de retratar a fealdade da fome após a tomada da Crimeia pelos bolcheviques em virtude de se terem retirado a todos os bens, com destaque os alimentares, inclusive as sementes e os animais, que serviam à manutenção da agricultura no meio rural desta península que penetra no Mar Negro.
Inicia-se no verão, onde os primeiros sinais da seca começam a impedir a alimentação dos animais domésticos e prossegue para o outono e inverno, onde tudo se vai degradando, inclusive os valores morais e as relações sociais de muitos com o crescer da fome, em resultado do facto de apenas aos quase adolescentes do exército vermelho estar assegurado o essencial com todos os seus abusos típicos de uma revolução, enquanto para a população definha pois tudo era classificado por excedente não partilhado e tomado pelos pretensos revolucionários.
Pela fome se pode dominar qualquer povo, como é referido no livro, mas será ainda possível acreditar num Deus e numa ressurreição perante tal deserto de valores? Dostoiévski é lembrado aqui através da dedução do seu romance "Demónios" onde se alerta que sem Deus tudo se torna permitido.
O quadro "Guernica" de Picasso retrata artisticamente pela pintura uma catástrofe desumana. Esta obra "O Sol dos mortos" faz o mesmo pela escrita para outra tragédia. O primeiro mostra uma situação momentânea, este uma calamidade que se anuncia, se instala e afeta culpados, inocentes, adultos e crianças, seres humanos e animais e estes últimos são sem dúvida genialmente utilizados para mostrar o horror que foi aquele período sem descrever diretamente muito do que foi passado pelas pessoas, uma forma de humanizar a descrição do horror.
Uma obra-prima, que sem ser um simples romance de ficção, descreve romanceadamente um acontecimento duríssimo e trágico e as obras de arte não têm de ser suaves para serem belas. Guernica foi por isso aqui colocada como contraponto de um exemplo do género sob outra forma de expressão artística, onde o horror se transformou em arte. Uma obra que deve ser lida não por passatempo, mas como um testemunho histórico de um acontecimento que ensombrou a humanidade.
fiquei curiosa, bela capa do livro. beijos, pedrita
ResponderEliminarTambém gostei da capa, até porque é coerente com o interior, uma desolação mostrada de uma forma bela e até com o inverno que entra no livro
ResponderEliminarOs russos, que descendem dos povos citas (desaparecidos), segundo Heródoto, historiador grego dos tempos mais antigos sempre guerrearam usando essa tática de destruir os alimentos, queimavam os campos para que seus inimigos morressem de fome.
ResponderEliminarEm Guernica,Picasso descreve bem o que já sabemos : que os alemães estavam testando bombas que usariam 4 anos depois nas invasões que cometeram na segunda guerra mundial; os bascos foram os afetados porque o presidente fascista espanhol da vez permitiu que os "hunos", fizessem essa barbaridade, para castiga-los por queriam a independência do jugo espanhol! GUERRA é a forma que os humanos mostram a não existencia de deus.
Aqui a comparação com Guernica é serem formas de arte que mostram o horror de até onde a guerra pode ir.
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