Acabei de ler "Volfrâmio" de um dos escritores portugueses mais importantes do século XX, Aquilino Ribeiro, um romance que em simultâneo cumpre vários papeis.
Mostrar o que foi a corrida desenfreada da população ao minério de volfrâmio ou tungsténio durante a segunda guerra mundial no interior de Portugal para o exportar para a Inglaterra ou Alemanha para fabrico de armamento, tendo em conta que este elemento químico aumenta a resistência das ligas metálicas e melhora capacidade explosiva do equipamento bélico, situação que gerou uma loucura generalizada semelhante à da febre do ouro. Esta ânsia de encontrar volframite ou de adquirir terrenos potencialmente detentores deste mineral levou à riqueza de muitos, à desgraça e exploração de outros e a uma luta sem ética nas populações indiferente à mortandade que grassava na Europa.
Destruir o mito romântico de que as pessoas rurais são simples, honestas e honradas ao contrário das urbanas, no seio da província lavram todos os vícios que empestam as cidades: a argúcia maldosa, a mentira, a inveja, a mesquinhice, os grupos de malfeitorias, as traições, o domínio dos mais fortes que infernizam a vida de muitos e onde não falta a violência e o crime neste mundo tido por são e pacífico.
Por fim e não menos importante, Aquilino mostra a diversidade lexical do português das Beiras, da designação dos utensílios da economia rural e recorre ao vocabulário em vias de esquecimento, escrevendo um texto não só magnificamente elaborado e cheio de figuras de estilo com raízes nos falares e provérbios populares, como também com uma riqueza de termos e uma elegância linguística que delicia todos os que apreciam a escrita como forma de arte. Todavia nem sempre é fácil apreender o significado de todas as palavras usadas quer pela abundância, quer pela frequência e proximidade em determinados parágrafo.
Assim, por estes três aspetos estamos perante um romance histórico e uma colectânea da riqueza da língua numa história acessível, uma vezes irónica, outras divertida e com momentos densos e amargos do que foram as dificuldades vividas nas nossas aldeias devido à pobreza das pessoas e à luta entre as virtude e defeitos da população portuguesa, sendo que estes também não são poucos.
nossa, deve ser muito interessante. não conhecia esse autor. beijos, pedrita
ResponderEliminargostei de o estrangeiro.
ResponderEliminarÉ talvez em termos de ficção o escritor mais importante da primeira metade do século XX em Portugal e o que utiliza a maior diversidade lexical da nossa língua, tanto erudita como popular.
ResponderEliminarO Estrangeiro é uma releitura tendo em conta o próximo livro que pretendo ler.
Aflige-me um bocadinho o vocabulário floreado do Aquilino. Mas para lá disso foi um génio na forma de abordar a relação do homem com a terra e a natureza das comunidades agrícolas. Um grande escritor, grande homem e grande humanista.
ResponderEliminarPois concordo e por isso por vezes há que repetir um parágrafo para apreendermos o seu conteúdo entre os floreados e o léxico desconhecido
ResponderEliminarAquilino Ribeiro é, sem dúvida, um dos escritores portugueses mais importantes do século XX.
ResponderEliminarLi "Volfrâmio" andava ainda no liceu. O Carlos abriu-me o apetite de o ler outra vez. Um dos romances preferidos do meu pai (padrasto).
Continuação de boas leituras.
No liceu li O Malhadinhas e fico muito contente por saber que um post nest blogue desperta o apetite de outras pessoas lerem um bom livro de que tenha aqui falado.
ResponderEliminarAquilino... Por incrível que pareça e com muita "mea culpa" só muito, mas mesmo muito recentemente o descobri... Claro que o conhecia de nome, mas nunca tinha lido nada dele, até que neste verão com curiosidade comprei uma edição de bolso de "A Casa Grande de Romarigães" e foi logo "paixão à vista", neste caso primeira leitura. Aquilino é grande, não é fácil de ler, todo o léxico e regionalismos que ele usa obriga-nos a uma leitura atenta e por vezes a releitura de frase e parágrafos, mas com a beleza das suas histórias isso só as faz apreciar ainda mais. Volfrâmio é um exemplo disso mesmo, a vida do povo da serra, as invejas, a mesquinhez, a pobreza e ânsia de querer mais que a febre do Volfrâmio provocou é transposta de forma soberba por Aquilino, que também faz uma dura crítica social neste seu (e outros) livro, sendo por isso perseguido e mesmo preso durante o fascismo.
ResponderEliminarJá tenho em fila de espera para leitura "Quando os Lobos Uivam" um dos livros mais polémicos dele.
P.S. Li o "Volfrâmio" numa edição de 1960, que comprei ainda novo (com as folhas coladas em cima como vinham na época) num alfarrabista aqui em Lisboa... Absolutamente delicioso...