Este romance completa a biografia romanceada e parcialmente ficcionada por José Rodrigues dos Santos de Calouste Gulbenkian e iniciada no título "O Homem de Constantinopla".
No primeiro romance tivemos as raízes do protagonista aprendiz para a sua vocação comercial desde criança, jovem e no início da sua vida adulta. Agora deparamo-nos com o memso já amadurecido, transformado plenamente num homem perspicaz e visionário para o mundo dos negócios do petróleo e enfrentar os vícios do sistema. Mesmo assim, este foi praticamente sempre um cidadão em fuga de perseguições raciais e culturais, sem nunca deixar de procurar a beleza na produção humana, o que o tornou num dos maiores colecionadores de arte do seu tempo.
O livro tem ainda um importante herói secundário, o filho de Calouste, tão semelhante e forte como o pai e como tal fonte de grandes choques de personalidades de convicções intensas.
Este romance denuncia longa e intensamente a dureza do genocídio arménio no início do século XX no império otomano e a forma como a Europa, sobretudo germânica, povo em relação ao qual o escritor não é nada simpático, fechava os olhos por interesse político. Mostra como nas duas grandes guerras se foi capaz de esquecer gratidões e criar inimigos onde eles não existiam, expõe a maldade reinante no mundo dos grandes grupos empresariais e como Portugal e Lisboa no extremo do continente e na sua pobreza e simplicidade pode ser uma surpresa agradável e cativante para muitos, a tal ponto que o homem mais rico do planeta legou a este País a maior fundação cultural do velho mundo.
Talvez por corresponder a um período mais maduro do protagonista e de guerras na Europa, o segundo romance tem uma escrita menos afetada por excessos floridos de figuras de estilo e mesmo descontando as partes ficcionadas que podem perturbar a imagem do verdadeiro Calouste Gulbenkian, recomendo a leitura deste conjunto de romances.
anotado. os irmãos karamazov é o meu preferido do dostoiévski. beijos, pedrita
ResponderEliminarOlá :)
ResponderEliminarAcho que já deu para perceber por aqui que eu sou grande admiradora da escrita de José Rodrigues dos Santos :)
Tal como já tinha dito no post sobre "O Homem de Constantinopla", adorei este romance (porque os dois constituem um único).
Uma coisa que noto de único na escrita deste autor é que, de uma forma aparentemente simples, nos faz ver certas coisas de uma forma diferente. Dá-nos visões diferentes de certos conceitos ou ideias que dávamos como dados adquiridos. E o que é certo é que nos dá evidências, indícios lógicos dessa outra visão. Isso aconteceu-me em praticamente todos os romances, mas nuns mais do que noutros. Um caso pertinente foi O Codex 632 (vi que era impossível que Cristóvão Colombo tivesse sido um simples tecelão genovês). Outro caso foi "O Último Segredo" (dei-me ao trabalho de ir ler partes da Bíblia que foram referidas e analisadas e dei comigo a pensar assim "Realmente...") E agora voltou a acontecer-me:
A ideia que tive sempre da figura de Calouste Gulbenkian era de um filantropo, um homem virado para a Cultura, para as Artes... E quando li o primeiro volume, "O Homem de Constantinopla", fiquei de início assim um bocado desiludida quando me deparei com uma personagem muito calculista, que nem sempre "subiu" pelos métodos mais ortodoxos, muito "picuinhas" com os negócios... Mas depois pensei: Que lógica terá a ideia que antes tinha dele? Quem consegue adquirir , fomentar e manter uma fortuna daquelas com filantropia, cultura e arte? Ninguém... De modo que, por detrás do filantropo tinha que estar um homem com outras características que nunca me tinham sido dadas a conhecer e nas quais eu nunca tinha pensado, mas que faziam todo o sentido :)
É uma das coisas de que mais gosto na escrita do JRS :)
Literariamente JRS não me agrada, mas ao menos escreve clara e corretamente, mas isso é a minha opinião pessoal.
ResponderEliminarPenso que criou alguns factos em torno de Calouste para apimentar a personagem,mas não li as biografias não romanceadas dele para saber bem a sua vida privada, sei que não teve apenas um filho e houve problemas familiares. Deduzo que a componente de negócios no livro é mais fidedigna.
Como se vê neste momento estou a ler Dostoievski um estilo de escrita e de tratamento das personagens que considero de génio e que muito admiro, mas também há escritores até com Nobel de quem não gosto.
Um esclarecimento: não tenho a presunção de só elogiar obras literariamente reconhecidas por uma elite, não escondo que gosto de romances policiais e thrillers por vezes com enredos geniais e escritas simples e de outros que reúnem a genialidade da escrita e da trama e são de cariz bem popular.
ResponderEliminarEu acredito que às vezes (para não dizer quase sempre) as nossas preferências literárias têm a ver com a identificação que sentimos com as ideias de cada autor, com a personalidade que ele mostra ter. Possivelmente, isso é confundido com "ir por simpatias", mas acho que não é bem assim. O que acontece é que os autores põem normalmente muito de si naquilo que escrevem. Eu não conheço o JRS a nível pessoal, nunca convivi com ele, mas por aquilo que o ouço opinar em entrevistas, identifico-me muito com as ideias dele. Muito mesmo. Talvez isso possa influenciar a minha preferência, não sei :)
ResponderEliminarAcho que tudo tem a ver com a nossa natureza. Actualmente estou a ler António Lobo Antunes, que é uma autor que adoro, mas que em esgota... Sinto-me esgotada sempre que termino um livro dele. Tenho que demorar depois um longo tempo até pegar noutro. É essa a razão porque ainda não li toda a obra publicada dele.
Em relação a esta obra, obviamente que há aspectos que foram mais "empolados", foram criados, para dar um ar mais romanceado, para prender o leitor, mas isso não interferiu na história base. Não alterou a ideia que se pretendia passar.
Esteve presente da apresentação um sobrinho-neto de Calouste, Michael Gulbenkian, e ao que parece ficou muito bem impressionado com a obra. Terá gostado. Aliás, o senhor esteve presente nas duas apresentações, mas na primeira , de "O Homem de Constantinopla" esteve apenas como espectador, foi assistir. Dois meses depois, quando foi a apresentação de "Um Milionário em Lisboa" já este lá encima, junto do autor e dos representantes da editora, e tomou a palavra também :)
Sim, o Calouste Gulbenkian teve mais filhos e teve irmãos (que também não são referidos), mas o José Rodrigues dos Santos neste tipo de romances históricos, costuma referir que prefere suprimir certas personagens secundárias, que existiram, para dar mais destaque aos protagonistas e não se perder com personagens que não venham dar muito à história. O Krikor, aliás, só aparece porque "faz falta".
Já em "O Anjo Branco", sobre a presença dos portugueses em África, em que a personagem central é inspirada no seu pai, esta personagem é apresentada como um médico casado, mas sem filhos. Ora, além do autor, há um irmão, 5 anos mais novo, que vive em Cascais, João Rodrigues dos Santos e houve ainda um outro filho que morreu em criança, antes mesmo do nascimento do José Rodrigues dos Santos. Ou seja, o médico que é retratado na obra, teve, ao todo 3 filhos. Mas na obra não tem nenhum. É uma opção do autor :)