Depois do meu mergulho arriscado no primeiro volume de "Em busca do tempo perdido", que falei aqui, mas que li no passado verão onde deixo claro que "Do lado de Swann" não é uma obra fácil, assumo que são sobretudo difíceis as primeiras páginas, senti-me motivado a continuar, eis que colhi um intenso prazer ao ler o segundo da série "À sombra das raparigas em flor".
Sempre num estilo de exposição da memória do narrador e reflexões prolixas sobre as vicissitudes do amor: Como conquistar o ser amado? Como esquecê-lo? As vitórias e as derrotas nesta tarefa de se querer ser amado, as angústias que acompanham tudo isto e a resistência individual às mudanças perante os hábitos de cada um, tudo isto com misturas sobre uma análise crítica da sociedade: os seus tiques, os vícios, os defeitos, as virtudes, as técnicas de relações sociais, os preconceitos e os arrojos.
Se no primeiro volume é a música um dos temas prediletos para Proust dissertar sobre a arte, o seu papel social e a exposição do evoluir das técnicas de composição é tratada para evidenciar o dinamismo do avançar do pensamento cultural e social, confrontar o conservadorismo e o modernismo; no segundo livro, a literatura e a pintura são as ferramentas usadas para um ensaio de análise sobre a arte e para atingir igual objetivo.
"À sombra das raparigas em flor" por ser um livro onde as memórias do narrador se passam na sua juventude e as protagonistas são ainda jovens, algo brilhantemente exposto no título, esta obra possui uma ternura fresca e pura, típica desta fase da vida, semeando um saudosismo delicioso a quem já passou por essa idade e recorda esses tempos, mas não deixa de ser um texto profundo que exige já uma certa maturidade literária do leitor para apreciar esta peça como uma obra de arte.