As imagens das enxurradas e resgate no Estado do Rio de Janeiro comovem quem as vê, como geólogo que visitou Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo e a Serra dos Órgãos, a comoção e a compreensão do que aconteceu aumenta.
Petrópolis é uma Sintra, cidade serrana com um palácio real ou imperial, cresceu perto da capital e tornou-se num centro cosmopolita de nobres. Teresópolis é uma cidade vizinha, o nome homenageia a mulher do imperador do palácio. Nova Friburgo foi uma colónia de emigrantes suíços mais a norte e na mesma cordilheira. Todas eram pequenas cidades com temperaturas mais amenas para europeus que as do Rio de Janeiro e estão cercadas por morros de grandes declives, cobertos de densa vegetação e cumes desnudados devido ao arraste do solo nas chuvas intensas. Pequenos burgos não muito distantes do Rio que a modernidade aproximou e a suas belezas transformaram-nos em pólos turísticos que atraíram muitas gente que ocuparam densamente margens de rios e morros num solo húmido, exposto a chuvas intensas e instável. A armadilha montou-se com o crescimento demográfico sem ordenamento territorial.
Vastas inundações como na Austrália, em zonas planas e de baixa densidade humana, são pouco mortíferas, as correntes não encontram tanta gente num curto espaço de tempo e a demora a atingir as cidades permite o aviso atempado das pessoas. Em regiões montanhosas densamente povoadas a subida das águas nos pontos de concentração é rápida, as correntes encontram muitas gente no trajeto, os solos dos declives perdem consistência, tornam-se lamas que escorrem e tudo arrastam e o tempo é escasso para alertas adequados à proteção das pessoas. Contra isto, havendo espaço, só há o ordenamento do território e retirada da ocupação humana dos locais de maiores riscos para viverem em zonas mais seguras, mas baixar o risco não é anulá-lo.
Os Açores têm zonas declivosas, períodos de chuvas intensas, sismos, ribeiras torrenciais e locais de maior risco de densidade urbana alta. A prevenção é a melhor via de evitar catástrofes, mesmo que as pessoas digam que há muito conhecem um local e não se lembram de ali ter ocorrido algo de grave, a memória das gentes é outra armadilha: raramente sobrevive um século e a terra tem 4600 milhões de anos, muito tempo para escolher quando decide atacar um local que reúna as condições para a catástrofe e a explosão demográfica torna-nos mais vulneráveis por favorecer a ocupação de locais inseguros.
Pois é ... o que é tranquilo rapidamente se transforma em caudal assombroso ...
ResponderEliminara corrupção no brasil chega em várias escalas. é muito grande a quantidade de construtoras, "profissionais" e funcionários públicos que se envolvem na corrupção de vender terrenos em áreas proibidas. todo mundo aprova inclusive os da prefeitura. dá muita raiva e tristeza pq não impedem q famílias gastem o dinheiro de uma vida em suas casas, pra depois dizer q eles têm q sair. uma ou outra casa pode ter sido realmente o excesso de chuva, mas várias estavam em locais q já sabiam q era de risco, mas por dinheiro ninguém avisa e se silencia. são cúmplices dessa tragédia anunciada, muito triste. e a população desinformada e não avisada se coloca em risco. triste. beijos, pedrita
ResponderEliminar@ Fernando
ResponderEliminarÉ verdade e eu já passei por situações semelhantes.
@Pedrita
Tudo isso é verdade e torna mais importante a prevenção e a fiscalização do controlo do ordenamento da ocupação territorial