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quarta-feira, 12 de maio de 2010

POETAS LUSÓFONOS 7 - Angola



Testamento

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

Alda Lara


6 comentários:

  1. Adorei a poesia! bom conhecer poetas de outras terras.
    Denise

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  2. @ Os Incansáveis
    Apesar de quase não ter havido comentários nesta mensagem, foi um dos poemas desta série de poetas lusófonos que mais gostei.
    Tentei percorrer todos os países de língua oficial portuguesa, comecei pelo Brasil e espero terminar na terra de Camões.

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  3. Andei um pouco afastada da blogosfera, mas estou retornando aos poucos. Não é fácil administrar o tempo para vida pessoal, profissional e todos os portais de relacionamento e informação (facebook, hi5, twitter e blogs). Vou ficar mesmo só com o blog e o facebook, que é o que cabe na minha rotina.
    Denise

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  4. Já conhecia este belíssimo poema da Alda Lara, poetisa africana que tanto admiro.
    Ao ler este poema veio-me a ideia de publicar no "ematejoca azul" um outro poema dela. É uma poetisa que não merece ser esquecida.

    Abraço da amiga de longe!

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  5. Eu gostei muito deste poema que conheci nesta busca e li outros de igual craveira. É sem dúvida uma excelente poetisa que merece ser divulgada

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