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quarta-feira, 21 de maio de 2008

METAMORFISMO DE CONTACTO - Um cozido geológico

A imagem do cientista excêntrico não corresponde à realidade, mas por vezes, quando se gosta de ciências naturais e se anda na rua, corre-se o risco de algo nos chamar à atenção, desviarmo-nos do nosso caminho e perdermos a noção do tempo ou dos compromissos. Recentemente, ao deslocar-me à Horta para compras, eis que uma camada avermelhada na arriba costeira da Espalamaca (ver mapa) me chama a atenção e lá fui espreitar...

No local deparei-me com uma camada de Rocha Metamórfica. Já aqui referira que no Faial não existem apenas rochas vulcânicas, também ocorrem rochas sedimentares formadas à superfície pela acção do vento, chuva e amplitudes térmicas atmosféricas. Só que o calor da terra, o peso das rochas (pressão litostática) e as forças devidos ao movimentos tectónicos (pressão dirigida ou orientada) também transformam as rochas noutras novas, denomindas, como já depreenderam, Rochas Metamórficas.
A camada avermelhada em questão resultou da passagem de uma escoada de lava quente por cima que cozeu (é isso mesmo!) a lava antiga e já arrefecida que ficou por baixo.

Existem várias formas de metamorfismo, mas a este tipo resultante da proximidade de uma rocha magmática quente chama-se Metamorfismo de Contacto, raramente atinge espessuras muito grandes, pois os locais mais afastados do calor não sofrem transformações. Imagine um bife espesso na chapa quente, só a camada externa é que fica grelhada, o interior mais afastado do calor poucas transformações sofre.

Assim, a camada de rocha que esteve em contacto com a lava quente ficou cozida o que se reflectiu na cor, o resto da rocha continuou "mal passado" devido à falta de calor e manteve-se cinzento.
Enquanto esquecia dos meus deveres a calcorrear calhau, quase nem reparava na beleza do Pico a espreitar por detrás da ponta Espalamaca, mas o deveres chamaram-me à atenção, não sem antes ter descoberto outra modificação em rochas devido à presão litostática, mas isso fica para outra post um dia futuramente.

5 comentários:

  1. nossa, que detalhismo técnico, parabéns. mas eu realmente ficava olhando a vista do pico e me esquecia desses detalhes. beijos, pedrita

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  2. Essa faixa vermelha certamente que não me passaria despercebida se passasse no local, mas a minha pouca experiência com rochas vulcânicas dificultaria a análise.

    Para quem não sabe e em jeito de acréscimo a este excelente artigo, o metamorfismo de contacto pode ter várias escalas, desde estas faixas até às chamadas auréolas de metamorfismo resultantes da ascensão de magmas e do seu efeito nas rochas encaixantes. As auréolas podem originar rochas como os quartzitos e até marmorizar camadas de calcário, com extensões quilométricas.

    As alterações que se dão devido ao metamorfismo por vezes destacam-se muito bem na paisagem, por diferenças de cor e a nível estrutural (foliações, por exemplo). Por exemplo, na foz do Douro (para quem conheça), notam-se muito bem as diferenças do material granítico de uma ponta da praia à outra, passando de granito amarelado para um gnaisse. Quase se pode dizer que o material foi "assado".

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  3. pedrita
    pois acredito, mas quem gosta de geologia vê beleza além daquela que outros vêem... por isso fazemos, às vezes, estes desvios algo estranhos ao comum dos mortais.

    rj
    sim senhor, foi uma boa achega, já agora, suspeito que neste estrato metamorfizado possa coexistir um paleossolo pouco maduro ou um nível de cinza, mas para o comprovar, implicaria estudos mais profundo e equipamento que não tenho disponível no meu dia-a-dia...

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  4. Parabéns pelo bom trabalho de levantamento geológico que está fazendo.

    bom fim de semana

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  5. à nanda
    é uma divulgaçao que faço por prazer, pena não ter mais disponibilidade e meios.

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