A 9 de Julho de 1998, cerca das 5:20 h da manhã, a ilha do Faial foi abalada por um sismo, que na freguesia da Ribeirinha, a menos de 5 km do epicentro, atingiu a intensidade X da Escala Mercalli Modificada, hoje praticamente todos se encontram realojados em novas habitações, mas, como todos os grandes acidentes, ficaram cicatrizes para sempre.
Enquanto relato aquele dia de memória, deixo imagens de algumas dessas cicatrizes físicas actuais, porque as psíquicas ficarão guardadas no íntimo de cada um de nós e sem registos fotográficos.
Recordo-me que os primeiros minutos daquele dia começaram com o início da leitura de um novo livro, "Caos" de James Gleick, mas o cansaço não me deixou passar para além das páginas iniciais e deixei-me adormecer...
Pela madrugada sou abalado por tudo a tremer, aquele não era um sismo igual a muitos outros, neste... tudo parecia querer sair dos eixos. Salto e dirijo-me para o local que sabia ser o mais seguro no quarto, enquanto, os móveis eram projectados, a janela saltava fora do caixilho, ouvia as paredes a desmoronarem-se, louças a partirem-se e o ribombar de uma forte trovoada debaixo de mim. Tanto tempo deu para distinguir as famosas ondas P, S e L e sentir que chegara ao último momento de um geólogo que sempre amara e respeitara os sismos.
Depois... atordoado... foi saber se lá casa todos, mãe e animais, estávamos bem e arranjar um espaço para sair de casa à luz daquela lua cheia que inundava todos os quartos, através daquilo que antes eram paredes. Objectivo conseguido....
...iniciou-se a fase de saber quantos estavam bem na freguesia, como controlar e reunir pessoas em pânico, solicitar ajuda aos mais capazes de discernimento, aproveitar todos os bons conselhos e aguardar o auxílio que, apesar de parecer uma eternidade a surgir, foi rápido e eficiente...
Durante o dia preparou-se o primeiro acampamento, houve o milagre da partilha da comida disponível pelas habitações acessíveis e a solideriedade de muitos vindos de todos os cantos da região e do país,
mais tarde chegaram a electricidade, os carros de bombeiros com água, os socorristas, os técnicos, os geólogos (alguns amigos) e as autoridades políticas regionais e nacionais... só mais tarde percebi, através de fotografias, que os recebera e os conduzira na minha comunidade em pijamas.... mas nunca ouvi qualquer comentário então.
Não sei quantas 24 horas teve aquele dia, sei que após algumas noites, adormeci sentado num banco de um corredor... e a reconstrução com virtudes e defeitos, com interesses políticos a se sobreporem ao bem-comum, a velocidade mais ou menos variável, arrancou e avançou...
A destruição desta freguesia foi quase total, um por cento da população pereceu, outros ficaram feridos, mas a vida continuou a brotar neste canto, que apesar das reduzidas dimensões, tem uma dinâmica invejável e uma alma maior que a sua terra.
Percorri, um ano depois, toda essa zona, e só então percebi a verdadeira dimensão da tragédia.
ResponderEliminarPedro Miguel....
Olá.
ResponderEliminarVim retribuir a simpática visita e comentário.
O tempo é pouco, mas sempre dá para de vez em quando visitar os amigos. Ultimamente é nenhum, por isso o andar a publicar apenas uma vez por semana.
Gostei do teu blog. É didáctico, interessante e com imagens fabulosas.
Quanto aos sismos...infelizmente já passei por duas experiências pouco encorajadoras: o de 1 de janeiro de 1980 e o de 9 de Julho de 1998, quando estava em São Jorge...
Um abraço.
Félix
olá geocrusoe!
ResponderEliminaraqui no continente muitas vezes esquecemos os perigos que navegam por essas ilhas e só falamos delas quando há este tipo de tragédias.
um outro olhar para estas ilhas é necessário, as suas gentes e cultura merecem isso e muito mais, porque elas são nossos irmãos.
um abraço cinéfilo
paula e rui lima
eu rafael manuel maciel sofri esse sismo da freguesia da feteira cidade da horta, voce em muita razao, as imagens se perde mas as cicatrizes ficam sempre.. nunca ficaram saradas e ja la vao anos mas quem (percorreu) aquele sismo nunca esqueçe-
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