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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

"A pele do Tambor" de Arturo Pérez-Reverte


Regressei ao escritor espanhol: Arturo Pérez-Reverte, um autor profícuo e diversificado de romances históricos, policiais ou ensaios e um bom analista da cultura hispânica. "A Pele do Tambor" enquadra-se no género ligeiro de investigação criminal e tem o tempero de mostrar o mundo menos exposto dos interesses terrenos da igreja e do Vaticano.
Numa sala de controlo da rede informática do Vaticano é detetado a entrada de um hacker que deixa uma mensagem ao Papa sobre uma igreja em Sevilha que mata para se defender, a situação abre uma investigação a partir do da secretaria de serviços estrangeiros e do departamento sucessor da Inquisição, sendo então encarregue do caso o padre Lorenzo Quart, que mais não é que um agente de espionagem da Santa Sé.
Em Sevilha Quart depara-se com um templo que um banco e a diocese estão interessados em demolir para investimento e especulação imobiliária, isto contra a vontade do pároco e de uma família nobre ligada àquela igreja, situação que parece já ter causado acidentes mortais dúbios e atritos familiares entre o gestor bancário e a sua mulher nobre, além de contratar alguns rufias para levar a cabo atos sujos de modo a conseguir os seus intentos. O padre vê-se numa situação de proteger os interesses do Vaticano sem se imiscuir nas guerrilhas locais, incluindo da diocese, enquanto também uma mulher jovem e atraente está no cerne do caso.
Costumo gostar das obras de Pérez-Reverte por ser um autor que junta boa escrita literária aos diferentes tipos de ficção que produz, pelo que é viável ler um policial sem sentirmos que estamos perante literatura de cordel de mero entretimento. A Pele do Tambor não é exceção, contudo, foi uma obra que embora me tenha entusiasmado nas primeiras páginas - quando o hacker quebra as seguranças do Vaticano e se sente em seguida o saudosismo dos senhores todo-poderosos da Santa Sé de agirem sobre o mundo na defesa dos seus interesses terrenos, cheios de grande frieza e pouco humanismo em nome de um deus que dizem ser amor - só que depois o interesse desvaneceu-se um pouco sem aquela ansiedade de uma obra de suspense. É um romance simpático, que mostra o grande encanto de Sevilha, que conheço, e tem um final surpreendente. Gostei mas não me deslumbrou. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

"A ilha dos Espíritos" de Camilla Läckberg

 


Neste período estival, onde tenho dado preferência a romances preferencialmente de entretimento, acabei de ler mais um romance policial da escritora sueca Camilla Läckberg: "A Ilha dos Espíritos", que onde continua a narrar casos que vão passando pelo casal da pequena cidade de Fjällbacka, constituído pela escritora de suspense Erika Falks e seu marido Patrik Hedström detetive na esquadra do Município Tanumshede.

Madeleine antiga colega de liceu de Erika refugia-se na pequenina ilha dos Espíritos com seu filho junto de Fjällbacka  depois de uma ocorrência que levou à morte do seu marido, em paralelo, o seu antigo namorado Mats e colega de turma mudou-se para Fjällbacka pouco após ter sido agredido em Gotemburgo tornando-se contabilista de um grande investimento na sua nova cidade, só que quando surgem dúvidas nas contas e se encontra com a sua antiga paixão aparece morto a tiro. Outra mulher refugia-se em Copenhaga devido a ser vítima de violência doméstica. Na esquadra a equipa heterogénea investiga a morte de Mats e não encontra pistas. A irmã de Erika recupera psicologicamente de um acidente com a morte do seu filho por nascer enquanto a outra trata dos seus recém-nascidos gémeos e investiga as lendas da ilha dos Espíritos que nunca abandonam a ilha e convivem com os seus visitantes, em conversa com o marido vai acompanhando o caso e visita antiga colega. Só que as coisas ficam complicadas e precipitam-se com com o surgir de casos de droga e mais mortes e precipitações de polícias imprudentes e a intuição de Erika. Em Gotemburgo e Estocolmo investigações de casos à partida independentes vêm mostrar-se que fazem parte todos do mesmo caso e a cooperação dá os seus frutos finais. 

A trama em cada romance desta escritora nunca é linear, vai-se montando um quebra-cabeças com episódios individuais associados a cada uma das personagens, ora de investigação, ora da vida familiar, ora do convívio social que no fim levam à descoberta dos crimes violentos e, frequentemente, uma segunda narrativa de memórias do passado vai sendo intercalada, uma repetição do passado com ecos no presente. Marido e esposa jogam no limite da cooperação entre o sigilo das vidas profissionais e a investigação conjunta e as tensões familiares e da esquadra. São romances policiais onde a vida familiar e a atividade detetivesca se desenvolvem em paralelo, se entrecruzam e têm pesos iguais no evoluir da narrativa, num tom marcadamente feminino que mais perto do final acelera.

Romances simpáticos, fáceis de ler que entretêm neste calor de verão e vão mantendo o interesse na leitura e no desenrolar investigação.