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segunda-feira, 29 de julho de 2024

"O Álibi Perfeito" de Patricia Highsmith

 


Acabei de ler 5 contos deliciosos sobre crimes escritos pela norte-americana: Patricia Highsmith, dos quais, o primeiro: "O Álibi Perfeito", dá título o livro.

Frequentemente, nos romances policiais e contos desta autora, a narrativa é contada do lado dos criminosos e muitas vezes apresenta-nos as razões de queixa que estes têm das suas vítimas, gerando assim uma empatia para com os culpados. Nestes contos há diversidade, em quase todos o protagonista é o criminoso.

Em álibi perfeito, o crime é perpetrado logo no início, percebe-se que bem planeado para o autor conseguir libertar para si a mulher que ama, mas cativa do seu tutor, só que de um alibi e um comportamento não previsto tudo parece que vai acabar bem... até num pormenor ser tudo desfeito. Noutro crime planeado, é tudo bem programado, cronometrado, mas a dependência de terceiros inocentes mostrou que não se pode contar com ninguém quando tal é fundamental. Há ainda uma história onde os criminosos caem na sua armadilha e outra em que são vítimas de testemunhas que não contaram. Pelo meio há o conto onde se conseguiu o crime perfeito e os autores gozam a libertação de quem os oprimia.

Maldade humana e maquinações em contos curtos, mas deliciosos e bem escritos: uma mistura que faz deste pequeno livro uma pérola de entretenimento de literatura policial. Gostei muito.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

"O Imoralista" de André Gide


 Citação

"Desgostos, remorsos, arrependimentos são as alegrias de outrora, vistas de costas."

Acabei de ler "O Imoralista" do escritor francês, laureado com o prémio Nobel da literatura, André Gide, correspondendo à minha estreia neste autor.

Michel é um jovem órfão de mãe, respeitador das regras morais e um brilhante estudioso da história das civilizações clássicas da Europa, um tipo de investigação que segue as mesmas pisadas de seu pai, mas, perto da hora da morte deste, ele toma a opção de casar com uma conhecida de família para assim transparecer perante o progenitor o seu enquadramento num futuro tradicional estável. Apesar do luto, os noivos decidem ir para a Tunísia em viagem de núpcias e conhecer os restos arqueológicos do império romano e de Cartago, só que ele adoece gravemente e na cura reconhece que ressuscitou para a vida, mas já não é o mesmo. Agora quer viver a vida sem amarras e a moral mais não é que um constrangimento ao verdadeiro disfrutar da vida. Então fascina-o tudo o que sai fora das regras. Entretanto, no regresso à França, é a sua mulher que adoece. Michel então empreende uma viagem ao norte de África para a cura desta, mas nem ele é o mesmo, nem a evolução é igual ao pretendido.

Como seria de esperar de um Nobel, o texto está brilhantemente bem escrito, trespassa para o leitor o sentimentos de Michel, as sua confusão fruto da mudança e as descrições do norte de África e de Itália são como fotos impressionistas, onde a atmosfera dos lugares é mais forte que a geografia.

Logicamente o romance é polémico, a preocupação de Gide em questionar as amarras da moral que limita o usufruir da vida, sente-se. O encanto pelo belo rústico e físico nos homens e, sobretudo, efebos, quase não há personagens femininas além da esposa, pode incomodar homofóbicos. A ideia de que os bem-comportados e integrados na sociedade são hipócritas conscientes ou inconscientemente é chocante, mas como refletir sobre a vida sem questionar os costumes e a moral instalada e incomodar?

Gostei, mas não é uma obra compreensível para todos ao nível da filosofia subjacente e deste romance poder-se-iam tirar do texto dezenas de pensamentos para reflexão.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Contos de Tchékhov - Volume 4

 

Li o quarto volume da extensa coleção Contos de Tchékhov da Relógio d'Água, gosto muito deste contista russo e esporadicamente vou à biblioteca pública buscar um volume para assim ir lendo a coleção.

Este volume possui 14 contos, os dois últimos mais extensos, quase novelas com perto de 100 páginas, os anteriores, na sua maioria, na ordem de uma dezena de páginas. Temos ao longo das diferentes narrativas curtas protagonistas de várias classes e situações mais ou menos comuns, desde um guardador de um cadáver que o abandona por um serviço pago, à mulher que trai o marido com um jovem enquanto aquele trabalha, à jovem que se apaixona pelo talento de um pintor medíocre e outra por um estatístico, ao caso das memórias de uma paixão passada que abre uma exceção no presente até a um lobo que ataca um redil cujas culpas caem num humano, etc.

Já as narrativas mais longas tornaram-se me mais cansativas, para mim Tcheckhov é mesmo genial em histórias curtas, numa, um espião tem ocasião para se apaixonar e não para desenvolver o seu objetivo ao ver uma relação de uma amante apaixonada por um homem que não se quer incomodar com a esta e não tem coragem para o assumir. Na outra, assistimos ao regularizar das relações matrimoniais dentro de um casamento com um início incerto cujo comodismo se instala com o tempo.

Confesso que me delicia a escrita (ou tradução) de Tchekhov, e as histórias curtas, embora possam relatar situações tristes, banais e a vida de gente comum, de tão bem narradas que estão, dão sempre grande prazer de ler. Gostei muito

segunda-feira, 1 de julho de 2024

"O Silêncio" de Don DeLillo

 



Acabei de ler "O Silêncio" do norteameriano Don DeLillo, apesar de no original ter como subtítulo "Um romance", está-se mais perante um conto ou novela que nem chega a 90 páginas.

Cinco pessoas combinam jantar no intervalo do grande jogo do super bowl em casa de um casal: uma professora de física, seu marido inspetor de seguros, um ex-aluno e professor de física, e um casal amigo, muito viajados que a chegar de avião de uma visita a Paris. Tudo na expectativa da partida, enquanto os professores esperam falam de Einstein, do mundo físico imaginado pelo cientista, ele pensa no apenas em jogadas enquanto o outro casal no avião ele fixa o monitor e vai lendo as informações e ela anota pensamentos e momentos para seus livros ou mais tarde recordar. Até que se dá um apagão global de todos os sistemas informáticos e todos os ecrãs se apagam, TV, telemóvel, computadores, comunicações dos avião. Uma catástrofe que as pessoas não estavam preparadas, um silêncio que obriga as pessoas a falar se ainda forem capazes.

Tenho gostado de todos os livros de Din DeLillo que tenho lido, todos resultam em obras que possuem momentos e diálogos desconcertantes que tocam os receios da humanidade ocidental atual e os riscos da civilização contemporânea, como que esta esteja à beira de cair num precipício para uma catástrofe final. Este não é exceção, não é uma distopia típica, eis um escritor menos absurdo que Kafka de há um século atrás, sem dúvida mais realista, toca nas sombras provocadas pelo desenvolvimento socioeconómico das últimas décadas, mas com ele sinto sempre aquela sensação estranha de que estamos a viver num mundo absurdo, um sonho que não é um pesadelo, mas sem luz ao fim do túnel.

Gostei muito e recomendo a quem ainda não conhece este escritor ou a todos que gosta dele, um pequenino mas típico Don DeLillo.