Excertos
"... real education, as I already discovered, meant things you really want to know, rather than things other people thought you should know."
"Never neglect the charms of narrative for the human heart"
Voltei a um dos meus escritores preferidos do Canadá e a um romance em inglês pois durante as minhas férias queria manter mentalmente esta expressão ativa sem pausas, uma vez que servia de base à minha comunicação e assim seria mais fácil destravar a língua durante o contacto com terceiros.
"The Cunning Man" de Robertson Davies corresponde às memórias da vida do relator já em idade de reforma e feito para um caderno pessoal e em resultado de estar a ser entrevistado por uma jornalista que desenvolve uma série de reportagens sobre como era Toronto antigamente. Está situação levá-o a anotar todo o seu passado, desde as razões que o despertaram para a medicina a partir do local ermo da sua infância onde dominavam as superstições e os tratamentos por feitiçaria indígena e teve uma cura estranha; passando pela sua educação num colégio interno com costumes e amigos estranhos; à descoberta da sexualidade, ao surgir do primeiro e único grande amor; à fuga das pressões maternas indo para a guerra, ao exercício médico com vítimas de fogo amigo que o levaram a adotar uma metodologia original, holística e filosófica não testada; ao regresso à cidade onde exerceu a sua forma de tratamento que gera desconfiança mas que acolhe os desesperados das soluções convencionais; o reencontro com colegas e a envolvência numa paróquia anglicana que foge às diretrizes desta igreja e onde se choca a prática de um clérigo que morre no altar e foi ponto de partida da reportagem que tem como fim a caridade para com o desprotegidos como a prática religiosa com outro sacerdote cuja arte como a música e a pompa dos ritos deslumbrantes são a opção para expressar a fé, tudo isto num local de encontro de gente diversa como artistas com vícios privados moralmente rejeitáveis como a homossexualidade, um espaço que se torna num laboratório de estudo e de testar as suas armas de psicologia e medicina.
Logicamente todas as contradições entre fé, ciência e vícios privados que assistiu levam ao rebentar da situações e conflitos entre crença, fraquezas pessoais, diretrizes das estruturas e explicações deste sábio original que vão sendo dissecadas à exaustão no romance.
A escrita Robertson Davies continua a ser próxima da literatura clássica inglesa, elegante e cuidada nos remates ao tocar nos pruridos da decadência humana para não descer à vulgaridade, mesmo quando se debruça sobre aspetos comuns ou escabrosos, e transportando para a narrativa a visão de uma classe que se sente acima da plebe.
Todos os temas habituais do autor estão presentes nesta sua última obra: a decadência das pessoas, a grande bagagem da cultura clássica, expressões artísticas como a música, a pintura, história da literatura e neste caso ainda a escultura, a religião e os seus dilemas, os complexos de inferioridade cultural dos canadianos face aos ingleses, bem como a dissecação de todas estas temáticas, mas o romance apesar de sempre coberto pela suspeita de um crime, temperado com romantismo e recurso a à crítica social tornou-se numa obra muito extensa, o que provoca cansaço, embora intercalados com momentos de leitura muito agradável e humorada que gera uma certa descontinuidade na linha da narrativa.
Gostei do livro pela riqueza cultural e elegância, não parece que o autor estava no ocaso da vida, apesar da morte estar bem presente no final da obra, dá a sensação que ele tinha ainda todo o tempo do mundo para escrever devagar e sobre muitas coisas.
"The Cunning Man" de Robertson Davies corresponde às memórias da vida do relator já em idade de reforma e feito para um caderno pessoal e em resultado de estar a ser entrevistado por uma jornalista que desenvolve uma série de reportagens sobre como era Toronto antigamente. Está situação levá-o a anotar todo o seu passado, desde as razões que o despertaram para a medicina a partir do local ermo da sua infância onde dominavam as superstições e os tratamentos por feitiçaria indígena e teve uma cura estranha; passando pela sua educação num colégio interno com costumes e amigos estranhos; à descoberta da sexualidade, ao surgir do primeiro e único grande amor; à fuga das pressões maternas indo para a guerra, ao exercício médico com vítimas de fogo amigo que o levaram a adotar uma metodologia original, holística e filosófica não testada; ao regresso à cidade onde exerceu a sua forma de tratamento que gera desconfiança mas que acolhe os desesperados das soluções convencionais; o reencontro com colegas e a envolvência numa paróquia anglicana que foge às diretrizes desta igreja e onde se choca a prática de um clérigo que morre no altar e foi ponto de partida da reportagem que tem como fim a caridade para com o desprotegidos como a prática religiosa com outro sacerdote cuja arte como a música e a pompa dos ritos deslumbrantes são a opção para expressar a fé, tudo isto num local de encontro de gente diversa como artistas com vícios privados moralmente rejeitáveis como a homossexualidade, um espaço que se torna num laboratório de estudo e de testar as suas armas de psicologia e medicina.
Logicamente todas as contradições entre fé, ciência e vícios privados que assistiu levam ao rebentar da situações e conflitos entre crença, fraquezas pessoais, diretrizes das estruturas e explicações deste sábio original que vão sendo dissecadas à exaustão no romance.
A escrita Robertson Davies continua a ser próxima da literatura clássica inglesa, elegante e cuidada nos remates ao tocar nos pruridos da decadência humana para não descer à vulgaridade, mesmo quando se debruça sobre aspetos comuns ou escabrosos, e transportando para a narrativa a visão de uma classe que se sente acima da plebe.
Todos os temas habituais do autor estão presentes nesta sua última obra: a decadência das pessoas, a grande bagagem da cultura clássica, expressões artísticas como a música, a pintura, história da literatura e neste caso ainda a escultura, a religião e os seus dilemas, os complexos de inferioridade cultural dos canadianos face aos ingleses, bem como a dissecação de todas estas temáticas, mas o romance apesar de sempre coberto pela suspeita de um crime, temperado com romantismo e recurso a à crítica social tornou-se numa obra muito extensa, o que provoca cansaço, embora intercalados com momentos de leitura muito agradável e humorada que gera uma certa descontinuidade na linha da narrativa.
Gostei do livro pela riqueza cultural e elegância, não parece que o autor estava no ocaso da vida, apesar da morte estar bem presente no final da obra, dá a sensação que ele tinha ainda todo o tempo do mundo para escrever devagar e sobre muitas coisas.